O MÉTODO DOMAN-DELACATO PARA CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS
O método Doman-Delacato (cujo nome é devido a seus dois principais
teóricos, Glenn Doman e Carl Delacato) foi elaborado no decorrer dos anos 50 e 60
nos Estados Unidos, pela equipe do Institute for the Achievement of Human Potential
(Instituto para o Desenvolvimento do Potencial Humano), localizado na Filadélfia. No
Brasil, o Instituto atua por meio do Centro de Reabilitação Nossa Senhora da Glória,
no Rio de Janeiro, fundado em 1959. Há ainda diversas instituições que aplicam os
métodos do Instituto ou similares na Dinamarca, na Itália, no Japão, no México e na
Espanha, entre outros.
O método Doman-Delacato está voltado principalmente para a educação
de crianças com lesão cerebral. Crianças, porque considera-se que elas possuem maior
plasticidade cerebral e, portanto, um melhor prognóstico em relação a melhoras que
indivíduos com idade mais avançada (VERAS, 1989). Quanto ao fato de o método
voltar-se apenas para a lesão cerebral, é importante esclarecer que, para o Instituto,
lesão cerebral é um diagnóstico amplo que engloba uma grande variedade de casos
que comumente são considerados como de deficiência física ou mental. De acordo
com o Instituto, são lesões cerebrais as seguintes condições: paralisados cerebrais,
crianças com necessidades especiais, autistas, disléxicos e crianças com síndrome de
Down, entre outros. Dessa maneira, na medida em que o método Doman-Delacato
busca possibilitar às crianças com deficiências superar suas dificuldades, é pertinente
compreendê-lo como um método voltado para a educação especial (DOMAN, 1980).
O marco teórico desse modelo de intervenção em educação especial
está centrado no princípio da organização neurológica (LEWINN, 1969). De acordo
com esse princípio, para que se possam instalar os processos comportamentais
superiores que caracterizam indivíduos sadios, torna-se necessário que a criança passe
com sucesso por etapas iniciais de desenvolvimento regidas por porções primitivas
do cérebro humano: num primeiro momento, o bulbo raquiano e medula espinhal,
posteriormente, a ponte cerebral, o mesencéfalo e partes distintas do córtex cerebral,
até que o córtex requintado seja ativado e as diversas capacidades e habilidades
individuais possam manifestar-se em níveis avançados. Essa convicção de que o
desenvolvimento do indivíduo humano recapitula o desenvolvimento da espécie
(ontogênese recapitula a filogênese) é um dos pilares da perspectiva de Doman e
Delacato. A lesão cerebral, nessa perspectiva, age obstruindo vias sensoriais ou motoras,
cessando o desenvolvimento da criança no que tange às funções prejudicadas pela
lesão, e assim impedindo o surgimento pleno de funções superiores, intelectuais ou
motoras (dependendo do tipo da lesão) (DOMAN, 1980). No entanto, se for realizada
uma intervenção que possibilite algum tipo de reorganização de caráter neurológico,
o processo de desenvolvimento pode retomar seus rumos e eventualmente o indivíduo
com cérebro lesado apresentará melhora significativa em sua condição, podendo
inclusive atingir a normalidade (DELACATO, 1963; DOMAN, 1980; VERAS, 1989).
Para efetuar o diagnóstico de crianças ditas com lesão cerebral foi criado
o Perfil de Desenvolvimento, uma grade que relaciona sete estágios neurológicos
pelos quais passa o desenvolvimento humano – diferenciados quanto às partes do
sistema nervoso que controlam predominantemente as funções humanas em cada
estágio - com a expressão de seis capacidades consideradas chaves. Três dessas
capacidades constituiriam as capacidades sensoriais humanas (capacidade visual,
capacidade auditiva, capacidade tátil) e, as outras três, as capacidades motoras
(mobilidade, linguagem e capacidade manual). Ler, compreender, sentir, andar, falar
e escrever, segundo a perspectiva de Doman e Delacato, são estágios avançados
dessas seis capacidades humanas (DOMAN, 1980).
Os profissionais que se utilizam do método da organização neurológica
verificam em que grau cada criança apresenta essas capacidades, e podem assim
verificar em que estágio neurológico ela se encontra. De posse desses dados, torna-se
então possível elaborar um programa de atividades específico para a criança que lhe
permitiria compensar o atraso no desenvolvimento e estimular as partes necessárias
de seu cérebro com maior freqüência, intensidade e duração em relação ao que a
criança realiza normalmente, a fim de que ela supere sua deficiência (DOMAN, 1980).
As atividades que compõem esses programas visam trabalhar as seis
capacidades mencionadas. As crianças são postas a rastejar, deslizar, são apresentadas
a estímulos variados de ordem visual, tátil e auditiva, e assim por diante. Algumas
dessas atividades são características de estágios mais primitivos (como por exemplo,
arrastar-se no chão), enquanto outras só são possíveis em etapas mais avançadas
(como utilizar o braqueador, isto é, dependurar-se nos degraus de uma escada disposta
horizontalmente a uma certa altura do chão) (DOMAN, 1980; VERAS, 1989).
Uma das atividades que é marca distintiva do método Doman-Delacato
denomina-se padronização. Trata-se de uma técnica que busca estimular aspectos
motores da criança, fazendo-a adquirir padrões corretos de movimentos de engatinhar
para que seu cérebro possa desenvolver-se corretamente. Durante a padronização, a
criança é deitada em uma maca e cerca de três adultos coordenam os movimentos
de seus braços, pernas e cabeça de modo a imitar formas de engatinhar. A aplicação
da técnica é justificada ao afirmar que movimentos passivos realizados pela criança
podem estimular o desenvolvimento cerebral, e assim promover o que se chama de
organização neurológica (DOMAN, 1980; VERAS, 1989).
Uma outra característica importante a ser apontada referente ao método
Doman-Delacato é o fato de que os programas a serem realizados pelas crianças são
extremamente duradouros e trabalhosos, muitas vezes tendo que ser aplicados em
tempo integral por mais de um adulto – como é o caso da padronização. No livro em
que explica as características essenciais do método, Doman (1980) traz um exemplo
de um programa que deveria ser executado diariamente das 8 horas e 45 minutos da
manhã às 9 horas e 20 da noite, de maneira ininterrupta. Se programas desse tipo
tivessem que ser executados apenas por profissionais dos Institutos, poucas crianças
poderiam ser atendidas e os custos para os pais seriam muito altos. Por essa razão, no método os pais das crianças com deficiências são treinados para realizarem os
programas em suas próprias casas. Trata-se de uma tarefa árdua para os pais, que em
muitos casos passam a viver integralmente para seus filhos, inseridos numa rotina
cansativa que exige muito deles e de suas crianças (VERAS, 1989).
Por fim, cabe mencionar o objetivo terminal das intervenções com o
método Doman-Delacato. A meta do tratamento é expressa de forma simples: a cura
completa da condição deficiente da criança; a normalidade. A princípio poder-se-ia
pensar que essa meta significa fazer com que a criança apresente ações compatíveis
com os demais de sua faixa etária. Como Veras (1989) afirma de forma clara, não se
trata de promover somente uma maior adaptação da criança em relação ao meio ou
aumentar um pouco o grau em que se apresentam suas habilidades, mas curá-las por
inteiro. Assim, por exemplo, crianças com síndrome de Down que fossem submetidas
ao método Doman-Delacato com sucesso deveriam curar-se da síndrome, tornandose
ex-mongolóides. De fato, Veras menciona o caso de uma aluna do Centro de
Reabilitação que “[...] ex-mongolóide, agora é como uma moça normal”
VIA:O método Doman-Delacato no contexto da Educação Especial Ensaio